20140411





Esse corpo meu?” nasceu da reunião de vários desejos da Téspis Cia. de Teatro.

O primeiro deles era dar continuidade aos estudos sobre o fazer teatral em conjunto com a Periplo Compañia Teatral (Buenos Aires, Argentina), com a qual mantém intercâmbio permanente desde 1997. Nesta ocasião foi montado o espetáculo “Bodas... (um ato cotidiano)”, como resultado de um estágio de 03 meses que a Téspis realizou no “El Astrolábio Teatro” (sede de trabalho do grupo portenho) e que permaneceu em cartaz durante 05 anos, participando de turnês e festivais no Brasil e no exterior (Argentina, Paraguai, Chile e Venezuela), colecionando inúmeras premiações.

Outro desejo era trabalhar com o tema da “transexualidade”. Com o projeto “Transexualidade e a Normalidade do Sexo”, premiado pelo Edital Iberescena, teve início em setembro de 2012 o desenvolvimento deste trabalho, que recebeu também o patrocínio do Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, através do projeto “Trans – Variações sobre Paisagens Dissonantes”.

Através de encontros realizados em Itajaí e em Buenos Aires, a Téspis e a Periplo trabalharam na construção do processo que partiu de vários improvisos dos atores, buscando levantar material para construir a dramaturgia de forma colaborativa.

Durante o processo de montagem, o recorte sobre o tema ampliou-se para a discussão dos padrões impostos pela sociedade, pela mídia e pela cultura em geral. Padrões de corpo, de beleza, de comportamento, do que é ser “feminino”, do que é ser “masculino”.

Desta forma, buscou-se entender a sensação de “sentir-se estrangeiros em seus próprios corpos” e trabalhou-se na construção de uma linguagem na qual a performatividade assume status preponderante na encenação.
Téspis Cia de Teatro


En esta segunda co-producción entre Téspis Cía de Teatro y Periplo, Compañia Teatral, nos enfocamos en aquellos patrones impuestos que nos compulsan a transitar la vida de una forma "performática", buscando incansablemente alcanzar una imagen que encaje en algún tipo de clasificación aceptada.

Nos modelamos en aquello que, creemos, quieren ver de nosotros. Moldes que, aún, en el caso de haberse iniciado como una particular forma de ruptura con lo habitual, fueron absorvidos convirtiéndose en moda, en Look. Hoy por hoy, ya no es tanto la belleza o la seducción como el Look.

La irrupción del mundo pos-moderno con sus diversas "configuraciones" establecidas que deforman el legítimo deseo original de transformación, invocando al cuerpo que se entregue a una especie de destino artificial y paródico.

Ya no hay tiempo de buscarse una identidad en la memoria, ni en un proyecto o un futuro. Se necesita un registro instantáneo, una conexión inmediata, una especie de identidad publicitaria que pueda aceptarse y comprobarse en el momento.

Una expansión efímera, higiénica y publicitaria del cuerpo. Mucho más una performance que un estado deseado. Una especie de imágen mínima de nosotros mismos.

La odisea de la identidad, de la identificación. ¿Con quien? ¿Para los ojos de quien? Pareciera que, ser uno mismo, se ha vuelto una hazaña efímera y sin mañana, desencadenada en un mundo anestesiado. Una condena a morir sin, aún, haber terminado de nacer.

Diego Cazabat
Diretor

Foto: Emanuelle Matiello


Release: 
Téspis apresenta dois corpos e outras variações sobre o comportamento humano

Embora tenha se adaptado a inúmeras intempéries, moldando-se ao estilo de vida contemporâneo à sua época e, dessa forma, ser a espécie mais bem sucedida em nosso planeta, a humanidade ainda possui, enraizados em sua pele, tabus e preconceitos quase primitivos. Olhando com um pouco mais de atenção ao nosso redor talvez estejamos vivendo hoje em dia um período de transição onde algumas questões são postas à prova quando pensamos nos enquadramentos sócio-culturais que a TV, a moda e os ditos “padrões de comportamento” nos impõem.

Foto: Lote84
A quebra de paradigmas, a desconstrução do eu e do binômio masculino e feminino, a mercantilização do corpo e a busca pelo perfeito são algumas das temáticas levantadas no novo espetáculo “Esse corpo meu?”. Uma coprodução realizada entre a Téspis. Cia. de Teatro de Itajaí e a Periplo Compañia Teatral de Buenos Aires.

Desde o ano de 1997 a Téspis realiza esse intercâmbio teatral com a companhia argentina. Desse encontro artístico já resultaram alguns trabalhos de muito sucesso, como o espetáculo “Bodas - um ato cotidiano” que estreou em 2000 e em seus cinco anos de existência foi apresentado em vários festivais brasileiros e países da América Latina acumulando ótimas críticas e várias premiações. Em 2012, foi criado um novo projeto para dar continuidade no aprofundamento dos estudos teatrais entre essas duas companhias. A partir do tema “transexualidade e a normalidade do sexo”, a iniciativa foi contemplada pelo Edital Iberescena. Um programa de fomento criado em novembro de 2006 pela Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e Governo. Atualmente ele é integrado por 11 países e tem como objetivo integração e o aporte necessário para a promoção de artes cênicas ibero-americanas.

Para a concretização desse projeto, a Téspis Cia. de Teatro ainda contou com o apoio do Edital de Intercâmbio Cultural da Fundação Cultural de Itajaí que possibilitou a ida dos atores para Buenos Aires. Além disso, no final de 2013, a companhia foi premiada com o Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura. Apoio financeiro conferido anualmente pela Fundação Catarinense de Culturaque tem como alguns de seus objetivos fomentar iniciativas culturais e artísticas do Estado.

Foto: Lote84
Ao longo do processo de construção de Esse Corpo Meu?surgiu a necessidade de ampliar a discussão sobre o tema “transexualidade”. O resultado que a Téspis Cia. de Teatro traz ao palco é um espetáculo cheio de camadas e com a intenção de provocar várias reflexões sobre o modo de se moldar ou mesmo de se transformar para ser reconhecido dentro de um meio social. Porém, através de uma linguagem pop, dinâmica e performativa. “O recorte sobre o tema ampliou-se durante a montagem para a questão dos padrões impostos pela mídia, pela sociedade, pela cultura em geral. Padrões de corpo, de beleza, de comportamento, do que é ser feminino e do que é ser masculino. Enfim, a discussão sobre quais são os padrões estabelecidos e o que as pessoas fazem para encaixar-se neles”, destaca atrizDenise da Luz que juntamente de Max Reinert compõe o elenco do espetáculo. A companhia também repete, pela terceira vez, a parceria com Hedra Rockenbach, ambientadora sonora do Grupo Cena 11 Cia. de Dança de Florianópolis.

Com a direção do argentino Diego Cazabat e a assistência de direção de Hugo De Bernardi, ambos integrantes da Periplo Compañia Teatral, o espetáculo aborda distintos pontos de vista, enfoques, afirmações e contradições do modo de vida da sociedade. Os personagens dessa peça são reflexos de homens e mulheres que buscam incansavelmente alcançar uma imagem que encaixe em algum tipo de classificação aceita. Quando, na maioria dos casos, essa aceitação não existe. “Um mundo de estrangeiros em seus próprios corpos”, completa Cazabat.

Esse Corpo Meu? estreou no dia 15 de março de 2014, no Teatro Municipal de Itajaí (SC).
Participou dos seguintes eventos:
Caxias Em Cena, em Caxias do Sul, RS, em 2014.
* Aldeia Palco Giratório Jaraguá, em Jaraguá do Sul, SC, em 2014.
* Festival Catarinense de Teatro, em Concórdia, SC, em 2015.
* Festival de Teatro de Piçarras, SC, em 2015.
* Projeto Manutenção AJOTE, em Joinville, SC, em 2015.
* Mostra Carona - 20 anos, em Blumenau, SC, em 2015.
* Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha - Mostra Local, em Itajaí, SC, em 2015.
* Floripa Teatro - Festival Nacional de Teatro Isnard Azevedo, em Florianópolis, SC, em 2015.
* 43º FENATA - Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa, PR, em 2015.


Foto: Lote84


Ficha Técnica:
Atuação: Denise da Luz e Max Reinert 
Direção: Diego Cazabat
Diretor assistente: Hugo De Bernardi
Dramaturgia: Processo colaborativo entre a Téspis Cia. de Teatro e Periplo Compañia Teatral
Ambientação Sonora: Hedra Rockenbach 
Figurinos: Cristine Conde e Denise da Luz
Costureira: Lélia Machado de Melo 
Cenário e Iluminação: Max Reinert e Diego Cazabat
Cenotecnia: Fer-Forge
Operação técnica: Jônata Gonçalves
Design gráfico: Max Reinert
Fotografias: Lote 84 e Emanuele Matiello
Produção executiva: Téspis Cia. de Teatro
Apoio: Projetos patrocinados através dos editais Iberescena e Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura

Foto: Emanuelle Matiello 

Sinopse: 
O que é feminino? O que masculino? O que é um corpo bonito? O que é ser normal? Esse corpo meu? O espetáculo discute os padrões sociais em que tentamos nos enquadrar todos os dias, para sermos aceitos, para sermos felizes. Dentro de uma linguagem performática, onde várias cenas são apresentadas sob forte impacto musical para formar um conjunto, a peça que investe no trabalho corporal dos atores e tem textos apenas em off, desfila, de uma maneira bem humorada, um panorama de conflitos sobre padrões de gênero, de beleza, de moda e do que sobra afinal, de original, em cada um de nós.


Foto: Emanuelle Matiello

O que já se disse:
Uma poética da libertação dos corpos
por Luciana Romagnolli
É próprio da performance como campo de conhecimento superar o logocentrismo, que concentra o saber humano somente na razão e nos discursos, e o pensamento binário, que constitui pares dicotômicos hierárquicos e excludentes, como sujeito/objeto, mente/corpo, razão/emoção, homem/mulher, masculino/feminino. Com isso, não somente valoriza os saberes do corpo, mas coloca em xeque questões de gênero e identidade.
A performatividade é um conceito sobre o qual muitos já escreveram. Dentre elas, Judith Butler, no viés do feminismo e da teoria queer, pensando o processo de constituição do gênero por meio da internalização das normas do que é ser homem ou ser mulher, manifestas nos corpos. E Josette Féral e Erika Fischer-Lichte, ao apresentarem teatro performativo como aquele no qual a presença sobrepõe a representação.
Esse Corpo Meu?”, criação da Téspis Cia de Teatro, de Itajaí, com a Periplo Compañia Teatral, de Buenos Aires, trafega por esses dois territórios, da performatividade de gênero e teatral, com admirável habilidade em colapsar a oposição entre forma e conteúdo. Max Reinert e Denise da Luz corporificam os estereótipos do masculino e do feminino e os lançam num jogo de intercâmbios e mutações, que desestabilizam o binarismo dessa oposição, mostrando possibilidades transgressoras e transitórias.
Trans. Eis o prefixo-chave, já transformado em conceito. Remete ao universo da diversidade sexual, nas figuras de travestis e transexuais, não como novas categorias estanques, mas, justamente, como a liberdade de transcender categorizações, transitar “entre”, “além” dos polos dos binômios. Nesse sentido, além de um movimento no campo dos direitos humanos fundamental em nossos tempos, o “trans” transpõe qualquer gueto para afirmar a liberdade do ser, a possibilidade de desvencilhar-se dos restritos padrões normativos da constituição da identidade. Assim, liberta cada indivíduo de experimentar sexo e gênero como aprisionamento.
Em Belo Horizonte, “Esse Corpo Meu?” encontra um espelho: o espetáculo “Trans”, do coletivo This is noT, realizada pelos performers Guilherme Morais e Ana Luísa Santos. As coincidências são várias, desde o diálogo com a argentina, a partir das pesquisas sobre identidade de gênero da ONG Futuro Transgenérico e da artista trans Susy Shock, até questões formais mais específicas, como as imagens do duplo, configurada pelos atuantes, e a simultânea frente de batalha nos campos da linguagem, da imagem e do corpo.
Ao traçar outras conexões entre o espetáculo da Téspis se a cena teatral brasileira mais contemporânea, percebe-se a força estética e ética de um conjunto de trabalhos. Ainda na capital mineira, uma das criações mais desafiadoras do ano passado foi a cena “Não conte comigo para proliferar mentiras”, dirigida por Alexandre de Sena, somando perspectivas críticas de cor, classe e gênero; e “Rosa Choque”, sob a direção de Cida Falabella, e “Calor na Bacurinha”, quando dirigida por Marina Viana, embora não abracem frontalmente a questão trans, desconstroem estereótipos da performance de gênero e do ser mulher. Já em Curitiba, há os trabalhos da Selvática Ações Artísticas, dentre os quais “As Tetas de Tirésias”, mito transgênero primordial, lembrado também no espetáculo de Itajaí.
O que faz desses trabalhos tão desafiantes para o espectador – falando especificamente de “Esse Corpo Meu?” também –, é a construção dramatúrgica, energética e espetacular não de uma alegação, certeza ou defesa de ponto, cristalizadores das ideias e das ações, mas de um questionamento. Uma crise. Uma indagação. Para isso, é determinante a não coincidência entre a cena visual e a cena sonora – entre os movimentos dos corpos presentes e as vozes desencarnadas em off. O tratamento poético dado às palavras mas também sua forma de emissão, em eco, entre ruídos sonoros que remetem ao futurismo oitentista de ciborgues transumanos. O caráter simbólico dos movimentos dos atuantes, construídos numa operação de estilização que transforma os gestos mais cotidianos, clichês de gênero, em estranhamentos.
A expressividade corporal de Max e Denise delineia-se plástica e discursivamente como produtora de imagens impregnadas de simbolismo. Vestir uma roupa corresponde a vestir um papel social, ou igualmente desvesti-los, e o preparo corporal de ambos permite o livre trânsito pela gramática do feminino e do masculino. Quando finalmente as gestualidades se confundem, inclassificáveis, os braços enfim se soltam, livres dos gestos pré-programados da moça e do macho, e dançam explorando o espaço.
A cena da construção da mulher perfeita é exemplar: impressiona o quanto se reconhece do ideal feminino socialmente aceitável no frankstein-mudo. Este e outros momentos ainda fazem pensar sobre a complexa relação entre a construção do feminino pelo corpo-mulher e pelo corpo-homem. A diva loira como algo do qual a mulher precisa se libertar, mas que o corpo-homem, se não cisgênero nem heteronormativo, almeja como libertação.
Corpos e sons geram uma atmosfera sinestésica, uma sensibilidade particular, de uma delicadeza estranha, leve acidez afetiva a corroer pouco a pouco as certezas do espectador. O que se faz no palco, segundo o próprio texto, é a paródia da paródia da paródia. O humano que imita o humano que imita o humano que imita. As figuras em cena insistem em risos satíricos – riem de si ou de nós? Recobrem com uma camada de cinismo tudo o que mostram.
Na apresentação realizada no IV Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha, a presença de uma turma de estudantes na plateia extravasou o difícil convívio desse tipo de proposição cênica com um público indisposto ao confronto estético, manifesto no fiufiu sexista, na surdez e na cegueira eletivas para o que não se quer enfrentar – atitudes comuns a outros estratos da sociedade menos dispostos a se autodenunciarem em gritos adolescentes.
Diante de cenas sugestivas como a bolinha que repetidamente rola do homem em direção ao meio das pernas da mulher e o brincar de carrinho e de boneca, entrevê-se a puerilidade da heteronormatividade castradora. Mas “Esse Corpo Meu?” não trata o espectador como criança. O cinismo é um modo de olhar para esse indivíduo infantilizado socialmente pela simplificação normativa, padronizada e binária do mundo como o adulto que ele é.
O espectador olha para a cena ou a cena olha para o espectador?

Sampleando desejospor Valmir Santos 
A neutralização do corpo é uma das constantes no teatro pós-dramático. Ele não modula esforço por linhas de emoção ou de identificação. Os atores Denise da Luz e Max Reinert seguem essa percepção à risca em Esse Corpo Meu? (2014), da Téspis Cia. de Teatro, de Itajaí. Adicionam fortes ingredientes da ação performativa para desconstruir a ilusão cênica e criticar a fixação biológica de gênero, como se as genitálias presumissem o desejo.
Seus corpos-manequins são suportes para samplear o gesto, a vestimenta, a atitude, o estereótipo. Desfilam no palco desvios e deslizamentos do masculino e do feminino com variantes para as transgeneridades.
Na criação colaborativa com a argentina Periplo Compañía Teatral – a direção é de Diego Cazabat –, a partitura física estiliza a glamorização da vida e provoca estranhamentos nos papeis sociais do homem e da mulher, ruídos representacionais a ver com a pele que cada um habita.
O texto-pensamento flutua em voz off sobre a dança dos corpos de Reinert e Denise, que transitam diálogos não-verbais e olhares que dizem muito. A fala gravada funde-se à paisagem sonora desenhada por Hedra Rockenbach, instigando uma dramaturgia que abre paralelos ou surte efeito direto.
A dupla atira-se de peito aberto. Seus corpos-narradores frequentemente vêm do fundo para a boca de cena. A frontalidade desenha como que um corredor-passarela em direção ao público. Também ao fundo, dois painéis lado a lado, de pé-direito alto, são os respectivos guarda-roupas. Atrás de cada um deles Denise e Reinert providenciam as mutações.
A pesquisa da coprodução encontrou níveis sofisticados de associação trabalhando com um material difícil de ser processado. Samplear significa montar. Não bastasse o campo de suas culturas em cruze, as duas companhias se permitiram contextualizações e relativizações históricas, econômicas e antropológicas sutilmente sinalizadas em objetos, adereços e figurinos, ou assumidamente viscerais nos corpos convulsos ou estatelados.
Afinal, estamos diante de diferentes níveis de violência na sociedade, como aquela exercida particularmente sobre o corpo da mulher, do cala boca machista ao fetichismo publicitário e cosmético.
As miniaturas de um carro e de uma boneca mimetizam infâncias emolduradas pelo tempo. Em alguma medida elas eram descondicionadas pela ternura acenada no desfecho. São imagens políticas que ampliam horizontes e refutam as agendas conservadoras sobre as normatizações da sexualidade, desculpa para o preconceito.
Entre chegar a esse raciocínio e transpô-lo à cena a Téspis e a Periplo, companheiras de intercâmbio desde 2007, conseguiram friccionar heterogeneidades também artísticas. A terceira via é o que Esse Corpo Meu? mostra equilibrando-se sobre o fio da navalha. Risco superado até durante a apresentação para uma plateia lotada, sobretudo, por estudantes do ensino médio. Apesar de um ou outro espectador incauto, o público em geral fruiu uma obra artística inquietante, além do que é um alento notar a floração adolescente tolerando as diferenças.

A Téspis Cia. de Teatro apresentou hoje "Esse corpo meu?", não conhecia e me surpreendi positivamente com a peça e sua genialidade em captar a atual situação da sociedade... A atuação perfeita do elenco nos faz perceber o quanto as palavras podem ser dispensáveis com expressão corporal de altíssima qualidade... Nela somos confrontados ao que fazemos do nosso corpo, o que realmente somos perante o mundo e o quanto ele nos manipula... Trans nunca foi um prefixo que me fez pensar tanto no que fazemos de nós mesmos... Quais nossas escolhas sexuais? Como transformamos nosso corpo por pura pressão da dita normalidade? Como nos adequamos a toda a hipocrisia da sociedade? E como somos controlados por ela para entrar no padrão de normalidade (que nos faz perder a individualidade pela facilidade dos outros não terem de lidarem com as diferenças entre as pessoas)? Tudo isso com muita qualidade musical e narrativa e elogios ao Max Reinert e Denise da Luz... Adorei as escolhas musicais, com ótimos espetáculos a parte... A narrativa com tom musical também deixou tudo melhor... Recomendo a todos essa peça, ela debate questões importantíssimas na atualidade de modo divertido e sério (na medida certa e bem alternado)... E cultura de qualidade nascida em Itajaí, temos que valorizar...

Felipe José Ramos


Fiquei encantado com a inteligência do espetáculo e toda a discussão que ele suscita. É fundamental discutirmos as construções de gênero de que forma se reescrevem no corpo e de como somos "transparódias" de um contexto social e histórico que nos convidam com o desconforto, quase sofrimento, a questionar quais padrões e sistemas nos constroem e de como reescrevermo-nos de forma a sermos mais felizes, para além dos estereótipos sociais! Parabéns novamente a Tespis!


Rafael Carvalho

Psicólogo



Bonecos de carne experimentam o masculino e o feminino
" (...) Todas as imagens criadas no espetáculo colocam o expectador no desconforto, como sugere os dois personagens iniciais, que a mim remetem a bonecos que tentam entender o que cabe a eles, e exploram possibilidades. As ações desempenhadas pelos atores eram concretamente simbólicas, ou seja, estavam totalmente em relação com a cena, mas remetiam a um significado maior que possibilita a discussão do tema de gênero. Todo o jogo proposto um com o outro e deles com a plateia, levam a um final gentil e reconfortador."
André Luiz Thieme
Mestre em Psicologia e professor na Unifebe e Faculdade Avantis



" (...) Não tínhamos como sair do teatro, sem essa mobilização interna do questionamento, que surgia a cada ação e em cada cena ininterruptamente. Um espetáculo que sem perceber, nos movia em direção à ação, e nos desorientava em pensamento. Um tema criativo e inovador. Não que a sexualidade seja algo abordado apenas nos dias de hoje- pois há tragédias gregas que já utilizavam como tema principal a sexualidade-, mas o tema não se limitava nisso, e nem tão pouco, tinha seus limites previstos. (...)
Mayara Cristina da ConceiçãoEstudante de Fonoaudiologia e participante do projeto Terapeutas da Alegria 



" (...) Na última cena, vemos os personagens brincando com brinquedos característicos, que te fazem refletir sobre como na nossa infância somos guiados através de um caminho já estabelecido, não tendo a oportunidade de poder escolher qual queríamos seguir. Muito da nossa sexualidade é definido na nossa quando somos crianças, e a cena final demonstra muito disso. Ao final, com a troca de lugares entre os dois personagens, com cada um deles mimicando e repetindo as mesmas ações que o outro fica a pergunta do “Qual é a diferença?”." 

 Guilherme Raphael Caldeira
Estudante de Teatro


" Esse corpo meu? Eu sou o ser que está no reflexo do espelho ou sou um ser diferente? Quem sou eu? Eu sou humano... porém sou algo além disto? Sou um homem, uma mulher, um animal, um macaco (sem pelo), um ser que pensa e se modifica enquanto tenta experimentar coisas que mal sabe o resultado, sou um ser pensante... mas quem sou eu? Ou melhor, sou exatamente o que? 
Questionamentos e suscitações que aparecem depois de assistir a estreia da peça “esse corpo meu”. O tema é abrangente, apesar de brincadeiras sonoras ao fundo (já que não existem falas, somente sons em off) ditam palavras que iniciam com “trans”. Transpirar, transcender, trans, trans, trans (relevando o assunto dito como principal na peça, a transexualidade). A peça é muito além do até então tema único da transexualidade, ela é em última instância, assim como toda obra artística, uma obra sobre o ser humano. Nós os seres humanos quando nos conectamos com funções artística (e culturais) sempre relevamos o nosso próprio estado. Sempre falamos sobre nós mesmo. A arte é de alguma maneira em última instância sobre o ser humano. Partindo desse pressuposto, a peça em questão “esse corpo meu?” questiona o ser humano e as motivações de ser. Somo aquilo que vimos. A propaganda é realmente algo que guia nossas escolhas?  (...) "
 Gabriel Felipe Spronello
Estudante de Direito e Auxiliar de Departamento Pessoal



Foto: Emanuelle Matiello




Necessidades Físicas

Palco Italiano -
Caixa preta com as seguintes dimensões mínimas:
09 metros de largura
08 metros de profundidade
04 metros de altura

Iluminação
14 refletores PC 1000W
15 refletores Elipsoidais com faca
12 refletores Fresnéis 1000W
09 "pés de galinha"
08 estantes de iluminação lateral

Sonorização
Caixas com alta potência. Mesa de som com entrada para notebook.

Transporte
04 pessoas
(02 [dois] atores e 02 [dois] técnicos)
Cenários são transportados com o grupo
Há um pequeno excesso de peso.


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Nos Jornais:


    
 

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